Google+ O Riso e o Siso: Sobre Lobos e Camparis - parte IV

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Sobre Lobos e Camparis - parte IV

queimando óleo
O fora-da-lei estava agora num bar. Bebendo. Arrastou consigo a desolação de ter surrado oito moças sedentas de sexo. Ele, um transgressor contumaz, não podia ter perdido essa chance. Porque naquela época, se havia algo subversivo, era deflorar mocinhas inocentes. Isso sim era motivo de maldizeres. Ele disperdiçou uma chance de escandalizar!
Tocava Roberto Carlos na Jukebox,
"Eu sou terrível / E é bom parar / De desse jeito / Me provocar"
porque quem era mau, quem não prestava, quem fazia as avózinhas fecharem as janelas e as sogras torcerem o nariz eram os cabeludos, de calça boca-de-sino e camisa agarrada, que ouviam iê-iê-iê. Esses não prestavam!
Seu companheiro chegou:
-E aí, bicho, que dureza, hein? Qualé o plá?
Só na gíria, porque, naquela época, quem falava corretamente num bar ou era viado ou tava tentando...
-Dureza? Que dureza? Não me fale disso, que tô num bode.
-Eee! Calma lá, que grilo é esse? É por que você broxou?
-Broxou? Quem broxou? Eu não broxei não, meu chapa. Já te falei, baixei o sarrafo na meninada. Não sabia que o que elas queriam era...

-Uma transa! Elas queriam uma transa e você não foi porque broxou!

"Estou com a razão no que digo / Não tenho medo nem do perigo /  Minha caranga é máquina quente / Eu sou terrível"
-Para com esse papo furado.
Os dois ficaram quietos por um tempo e a música preencheu o espaço na mesa.

"Você não sabe / De onde eu venho/ O que eu sou / E o que tenho / Eu sou terrível / Vou lhe dizer / Que ponho mesmo / Pra derreter"... Logo começou O Tremendão...

-Será que eu broxei?
-Espera que eu vou buscar um Campari e a gente vai encher o caco...
-Será que eu sou broxa?
O amigo voltou com alguns copos cheios de vermelho e outros cheios de transparente. Cachaça! Eles iam se matar de tanto beber...
-Bicho, essa é daquela que matou o guarda? - pegou um copo do líquido transparente e virou! Depois outro e mais outro, e a careta no final de cada dose ia ficando mais distorcida, mais dolorida -Vou virar até morrer!
-Irmãozinho, vai com calma que isso aí é água!
-Água? Que é isso cara? Assim você acaba comigo... Já tem gente me chamando de broxa, você ainda me traz água?
-Ninguém te chamou de broxa! Fui eu.. tava brincando...
-Mas cara, eu acho que eu sou mesmo...
-O quê? - o som da Jukebox estava, agora, mais alto e eles não conseguiam se ouvir. O que você falou?
-Que eu acho que sou broxa...
-Não tô te ouvindo. Essa merda ta muito alta...
-Eu sou broxa!
O som cortou no exato momento da confissão. O silêncio no bar fez os olhares pesarem sobre os dois. Sem nem respirar, o fora-da-lei-com-disfunção-erétil engoliu seco, moveu os olhos para os lados e emendou:
-Quando ele falou isso, meu irmão... Dei-lhe um safanão e respondi, potaqueparéu, que é isso? Tá louco? Sai de perto, bicho, vai tomar catuaba com amendoim...

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